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COP 28: quais são os avanços em relação à questão climática?

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    O cenário atual do aquecimento global e das mudanças climáticas demanda uma resposta urgente, e a realização da COP 28 pode representar nossa derradeira oportunidade para estabelecer as medidas necessárias que possam alterar essa realidade.

    O último Relatório de Avaliação do IPCC, lançado em março de 2023, sinaliza um preocupante caminho em direção a um aumento de 3,2 °C na temperatura até o final do século, tornando a vida humana na Terra praticamente inviável. 

    Este panorama contrasta com o compromisso estabelecido no Acordo de Paris, que preconizava um aumento máximo de 1,5 °C em relação à era pré-industrial até o final deste século. 

    Diante desse contexto crítico, as deliberações da COP 28 se tornam cruciais para definir estratégias capazes de reverter esses índices alarmantes e garantir a sobrevivência das gerações futuras.

    Entenda as COPs

    A COP, ou Conferência das Partes, é um fórum internacional que reúne representantes de diversos países com o propósito de estabelecer medidas eficazes para combater as mudanças climáticas e o aquecimento global. 

    Inicialmente definida pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em 1992, no Rio de Janeiro, essa reunião anual tem sido fundamental para a criação de estratégias importantes, como o Acordo de Paris, estabelecido na COP 21, em 2015.

    Através das COPs, os países conseguem coordenar esforços globais e abordar questões ambientais essenciais para a preservação da vida humana no planeta. 

    Isso inclui a redução de emissões de gases de efeito estufa, adaptação às mudanças climáticas, financiamento climático e transferência de tecnologia. 

    Como foi a COP 27, que ocorreu em 2022?

    Na COP 27, realizada em 2022 em Sharm El-Sheikh, Egito, tivemos alguns desdobramentos que merecem reflexão:

    Uma das principais discussões do evento foi a criação do fundo para ajudar países em desenvolvimento a lidar com as perdas e danos causados pelos eventos extremos relacionados à mudança climática.

    Alguns especialistas consideram essa uma conquista histórica. Já outros colocaram que a decisão se trata de pagar por danos que deveriam ser evitados.

    Uma frustração praticamente unânime dos que defendem o meio ambiente foi a não menção do petróleo e gás como combustíveis fósseis que precisam ser eliminados. A declaração final citou somente a necessidade da redução gradual do carvão.

    Outro ponto que decepcionou foi não enfatizar quais seriam as ações práticas para limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC até o fim do século, conforme foi estabelecido no acordo de Paris.

    Nesse contexto, a COP 28 emerge como uma oportunidade única para definir ações efetivas que possam moldar o futuro das mudanças climáticas.

    E o que esperar da COP 28, então?

    A COP 28, está ocorrendo em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, de 30 de novembro a 12 de dezembro deste ano. 

    Conforme apontado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), há expectativas de ações mais concretas em comparação com a COP 27, onde muitas negociações não saíram do papel.

    Uma controvérsia inicial é a sua realização nos Emirados Árabes Unidos, com o CEO da Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi como anfitrião.

    Mas, deixando críticas e pessimismo de lado, o foco central é o Acordo de Paris!

    Assim, as discussões giram em torno de como as nações estão implementando ações para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C até 2050.

    Além disso, a COP 28 busca atingir a meta de US$ 100 bilhões no fundo para transição climática durante o encontro, uma iniciativa estabelecida anteriormente para ajudar nações menos favorecidas a lidar com os efeitos das mudanças climáticas.

    A seguir, trazemos as evoluções da COP 28

    30/11/2023

    • A cúpula do clima da ONU, comunicou a alocação de aproximadamente US$ 420 milhões para auxiliar países impactados pelo aquecimento global. Apesar de ser considerado um montante modesto por especialistas, a decisão é reconhecida como histórica e recebeu aplausos dos representantes dos quase 200 países participantes da reunião.
    • A ida do presidente Lula à COP 28 trouxe novas expectativas em relação às ações de combate à crise climática. No governo anterior, o Brasil experimentou um aumento de 9,5% nas emissões de gases estufa, principalmente devido ao descontrole no desmatamento. Lula afirmou que estava na COP para discutir a preservação da floresta amazônica e para verificar se os países ricos estavam realmente dispostos a investir nos países com florestas, visando a manutenção desses ecossistemas.

    A decisão de lançar o fundo no início da COP elimina a preocupação de que esse compromisso, estabelecido na conferência anterior, pudesse ser contestado, o que poderia ter impactado negativamente o progresso das demais negociações.

    01/12/2023

    No segundo dia da COP 28, líderes mundiais, incluindo o presidente Lula, participaram de negociações climáticas. 

    O Brasil anunciou avanços no fundo global para florestas tropicais, com uma meta inicial de captação de US$ 250 bilhões, focando na conservação e restauração de ecossistemas florestais, especialmente na Amazônia.

    No discurso de Lula, destacou-se a necessidade de redirecionar os gastos em armas para investimentos no combate à fome e medidas de controle das mudanças climáticas, ressaltando a atual seca na Amazônia e a urgência de uma economia menos dependente de combustíveis fósseis.

    Houve a renúncia de Hilda Heine, ex-presidente das Ilhas Marshall, ao conselho consultivo da COP, em meio a relatos de negociações de combustíveis fósseis pelos Emirados Árabes Unidos. 

    O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu uma transição para um futuro sem combustíveis fósseis, destacando a urgência de conter o aquecimento global. 

    O rei Charles III do Reino Unido alertou para um “mundo mais sombrio” se não houver progressos significativos na agenda climática global.

    Apesar dos avanços na captação de recursos para o fundo global das florestas tropicais, houve preocupações sobre possíveis expansões na exploração de petróleo no Brasil, levando a críticas de grupos ambientais sobre inconsistências na abordagem climática do país. 

    02/12/2023

    Cinquenta das principais empresas petrolíferas globais, incluindo a Petrobras, ExxonMobil dos Estados Unidos e Aramco da Arábia Saudita, anunciaram sua adesão a um pacto visando a redução das emissões de suas operações. 

    A Carta de Descarbonização do Petróleo e do Gás, elogiada pelo presidente da COP 28, Sultan Al Jaber, é considerada um “grande primeiro passo”. O pacto estabelece a meta de operações “neutras em termos de carbono” até 2050, encerramento da queima de gás até 2030 e redução das emissões de metano para quase zero.

    O Reino Unido anunciou uma doação adicional de 35 milhões de libras (aproximadamente R$ 215 milhões) para o Fundo Amazônia. 

    Além disso, o país formalizou o contrato com o Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a transferência dos 80 milhões de libras (cerca de R$500 milhões) anteriormente prometidos pelo primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em maio.

    No evento sobre florestas na COP 28, o presidente Lula emocionou-se ao discursar ao lado da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e reiterou a necessidade de os países ricos investirem na preservação ambiental, salientando que a somente evitar o desmatamento não é suficiente. 

    Em relação à participação do Brasil no grupo Opep+, Lula anunciou que o país se unirá, mas esclareceu que não terá papel decisivo nas deliberações.

    Ele comparou essa participação à sua presença no G7, onde fica a par das decisões, mas não influencia diretamente. 

    Quanto ao pacto das empresas petrolíferas, especialistas afirmam que o plano é controverso, uma vez que nenhuma das companhias concorda em diminuir a produção de petróleo e gás.

    Já a adesão do Brasil à Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+) vai contra certos interesses nacionais, incluindo a direção da produção de petróleo do país e a aspiração de liderar a transição energética, conforme avaliação de especialistas.

    03/12/2023

    Apesar do presidente da COP 28, Sultan Al Jaber, ter afirmado alguns dias antes do encontro que “não há ciência” respaldando a necessidade de uma redução progressiva do uso de combustíveis fósseis para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, conforme divulgado pelo jornal britânico The Guardian, as decisões no evento seguiram outro rumo.

    Assim, 118 países, incluindo o Brasil, assumiram o compromisso de triplicar sua capacidade de geração de energia renovável até 2030. 

    Em paralelo, um grupo de 20 nações propôs triplicar a produção de energia nuclear até 2050. Liderado por potências como União Europeia, Estados Unidos e Emirados Árabes Unidos, esse movimento ambicioso visa aumentar significativamente as capacidades globais de energia renovável, para aproximadamente 11.000 gigawatts, em comparação aos atuais 3.400 gigawatts. 

    China e Índia, embora apoiem a iniciativa, optaram por não assinar o compromisso, conforme informado pela Reuters.

    A declaração de Al Jaber foi alvo de críticas e está em desacordo com o consenso científico. Isto porque, a própria ONU, responsável pela realização da COP 28, afirma que o uso de combustíveis fósseis é a principal causa do aquecimento global.

    04/12/2023

    Ativistas ambientais destacaram o Brasil como o “Fóssil do Dia” na COP 28, devido a sua adesão à Opep+. O “Fóssil do Dia” é uma ironia concedida diariamente durante as conferências climáticas da ONU, desde 1999.

    Durante um painel, o Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ressaltou as perspectivas do Brasil na produção de biocombustíveis. Ele enfatizou que a próxima geração de combustíveis renováveis, como o combustível sustentável de aviação (SAF), diesel verde (HVO), e etanol de segunda geração, atrairá investimentos superiores a R$200 bilhões até 2037. 

    Além disso, Auricélia Arapiun, que representa 14 povos indígenas, está participando ativamente da COP 28. A coordenadora do Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns expressou a intenção de defender os rios da Amazônia. Auricélia destaca a importância deste momento para a população indígena ser ouvida e menciona que, em 2025, Belém sediará a COP 30, enfatizando a necessidade de compreenderem a realidade por meio das vozes dos povos da floresta, não apenas pelos discursos dos governantes.

    05/12/2023

    De acordo com um relatório divulgado pela coalizão ambiental Kick Big Polluters Out, pelo menos 2.456 lobistas ligados aos combustíveis fósseis participaram das negociações climáticas da COP 28. 

    Essa taxa representa um aumento significativo em comparação ao ano anterior, indicando um número quatro vezes maior de delegados vinculados às indústrias de carvão, petróleo e gás em relação à edição anterior da cúpula da ONU. 

    Com o intuito de destacar o potencial do Brasil no avanço do setor de hidrogênio de baixo carbono, o Ministério de Minas e Energia firmou duas declarações durante a Mesa Redonda em Alto Nível de Hidrogênio. A primeira declaração propõe o reconhecimento mútuo de sistemas de certificação de hidrogênio entre diversos países, fortalecendo o marco legal do hidrogênio. A segunda declaração busca propor iniciativas, tanto públicas quanto privadas, para impulsionar o comércio internacional de hidrogênio. 

    Ademais, ficou claro que líderes financeiros estão trabalhando para revitalizar o mercado de créditos de carbono, que enfrenta um declínio. É importante observar que a ONU enfatiza que a adoção de modelos voluntários não pode substituir os cortes reais nas emissões necessários por parte do setor privado para enfrentar eficazmente as mudanças climáticas. 

    Neste dia, lideranças indígenas brasileiras marcharam pelo corredor central da Expo City entre as bandeiras dos quase 200 países que participam da conferência. Este dia foi dedicado aos povos indígenas na agenda da COP 28 e as lideranças buscaram uma maior representatividade durante as negociações.

    Em um ano em que as temperaturas globais e as emissões de gases do efeito estufa alcançaram recordes, ambientalistas criticaram o aumento significativo de lobistas dos combustíveis fósseis na COP 28.

    06/12/2023

    Durante este dia, a delegação brasileira explorou os passos recentes do país em direção à chamada descarbonização da economia, especialmente no setor industrial. 

    O foco estava em analisar as estratégias desse setor para impulsionar a transição global em direção a uma economia de baixo carbono. 

    Nesse sentido, o vice-presidente do Senado, Veneziano Vital do Rêgo, destacou a necessidade de integrar economia e meio ambiente, desmistificando a ideia de que uma representa uma ameaça à outra, dado que todos os setores serão impactados pelas mudanças climáticas.

    Yuri Schmitke, Presidente Executivo da Abren e Vice Presidente do Global Waste to Energy Research and Technology Council – WtERT, entregou uma carta conjunta do Global WtERT e da Universidade de Sharjah ao Presidente Designado da COP28, Sultan Ahmed Al Jaber.

    O documento alerta sobre as emissões de metano de aterros sanitários, indicando que, mesmo com sistemas avançados de captura de biogás, 50% a 70% do metano escapa, conforme evidenciado por imagens de satélite da NASA. 

    No Brasil, as emissões são de 3 a 10 vezes superiores às declaradas dos aterros no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL da UNFCCC.

    A solução proposta é desviar os resíduos dos aterros, seguindo a hierarquia de resíduos: reutilizar, reciclar e aplicar tratamento térmico (waste to energy) e biológico (compostagem). Essas práticas podem resultar em uma redução de 9.2 vezes nas emissões de gases de efeito estufa, conforme estudo do Brazil Energy Program – BEP do Reino Unido (UK, 2022).

    O governador do Pará, Helder Barbalho, anunciou durante reunião com representantes da Cooperação da Juventude Amazônica para o Desenvolvimento Sustentável (COJOVEM) que o Pará planeja realizar uma “pré-COP” voltada à juventude e aos movimentos sociais em 2024. 

    A proposta será submetida à aprovação da ONU, organizadora da COP 30, programada para ocorrer em Belém em 2025. A iniciativa visa permitir que jovens líderes discutam questões ambientais um ano antes da COP 30, possibilitando a apresentação de propostas elaboradas durante o evento de 2025.

    07/12/2023

    A COP28 marca um marco histórico ao ser a primeira conferência da ONU sobre o clima a dedicar um dia temático à paz. Este evento estabelece uma conexão crucial entre a guerra e a mudança climática, fazendo um apelo por maior financiamento para países vulneráveis, como Líbia, Iêmen e Síria. Muitos desses países foram, em grande parte, excluídos desses fundos devido à não conformidade com os requisitos estabelecidos pelos doadores nas instituições multilaterais.

    Outro destaque nesta quinta-feira na COP 28 foi a realização do painel sobre hidrogênio verde. Essa categoria de hidrogênio é caracterizada por facilitar a quebra da molécula de água para a obtenção de hidrogênio, utilizando energia limpa.

    Durante o evento, foi lançado um atlas que aborda a produção de hidrogênio verde na Bahia, atraindo a atenção de investidores e especialistas em transição energética.

    Por outro lado, um informativo apresentado durante a COP28 destaca uma trajetória alarmante para o mundo.

    O relatório de Pontos de Inflexão Globais, elaborado por uma equipe internacional composta por mais de 200 pesquisadores sob a coordenação da Universidade de Exeter, no Reino Unido, em colaboração com o Bezos Earth Fund, alerta sobre as consequências irreversíveis das mudanças climáticas. Os relatório aponta ameaças sem precedentes para a humanidade, podendo desencadear efeitos devastadores, como a perda de ecossistemas inteiros e a capacidade de cultivo de culturas essenciais. Isso, por sua vez, terá impactos sociais, como deslocamentos em massa, instabilidade política e colapso financeiro.

    Apesar dos alertas realizados e do painel sobre o hidrogênio, no geral, a quinta-feira foi de pausa na COP 28, proporcionando um descanso para os 80 mil delegados presentes no evento após uma intensa semana de atividades.

    A conferência continuará até 12 de dezembro, e há uma expectativa, conforme indicado pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), de que mais ações concretas sejam realizadas em comparação com a COP 27.

    08/12/2023

    Após a interrupção da COP-28, durante a retomada das negociações climáticas, o Sultão Ahmed Al Jaber instou os representantes de quase 200 países reunidos em Dubai a concluir os trabalhos. 

    O líder do evento e representante dos Emirados Árabes Unidos dirigiu seu apelo aos ministros e funcionários de alto escalão de diversos governos presentes na conferência, buscando acelerar os debates. 

    Ele ressaltou a oportunidade de alcançar uma mudança de paradigma capaz de moldar a economia global e o nosso futuro, priorizando a ação climática centrada nos mais vulneráveis. Um ponto crucial da COP-28 envolve a decisão sobre o mundo concordar em “abandonar” os combustíveis fósseis, como a principal fonte de energia.

    Nessa data também foi divulgado que a COP-28 conta com a presença de pelo menos 475 lobistas envolvidos com a captura e armazenamento de carbono, de acordo com uma estimativa do Centro de Direito Ambiental, baseada na lista provisória da Organização das Nações Unidas (ONU).

    Entre esses participantes, encontram-se representantes de empresas que colaboram em projetos de captura e uso ou armazenamento de carbono, bem como de organizações que têm um histórico público de apoio a essa tecnologia.

    Também na sexta-feira, ativistas da COP-28 da ONU em Dubai afirmaram que não puderam expressar suas opiniões livremente sobre o conflito em Gaza, e que seus protestos em relação ao clima foram prejudicados por restrições sobre quando e onde poderiam ocorrer. 

    Eles informaram aos repórteres que estavam negociando com o secretariado da ONU as regras, que, segundo eles, mudavam diariamente.

     É importante saber que a área designada para a conferência COP 28 é considerada território da ONU e está sujeita às regras da organização, não às do país anfitrião.

    09/12/2023

    Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e das Mudanças Climáticas, pediu que todos os países reduzam o uso de energias fósseis e reconheçam a necessidade de adaptações. 

    Ela destacou a importância de liderança dos países mais industrializados na transição para fontes de energia sustentáveis, propondo a criação de uma instância na Convenção-Quadro do Clima da ONU para discutir a eliminação dos combustíveis fósseis. 

    Marina ressaltou a importância de um esforço conjunto, salientando que os países desenvolvidos devem liderar o processo de desaceleração.

    A inclusão, ou não, de um apelo à “eliminação progressiva” ou “redução progressiva” dos combustíveis fósseis no acordo final da COP 28 é considerada por muitos como o indicador mais crucial do sucesso na cúpula da ONU. Embora a questão possa parecer simples e baseada em ciência, ela é, na verdade, complexa e profundamente política.

    Nesse sentido, a defesa dos combustíveis fósseis pela Opep recebeu críticas intensas. A ministra espanhola da Transição Ecológica, Teresa Ribera, classificou essa posição como “repugnante”. 

    Durante a fase final da reunião em Dubai, os ministros assumiram o controle, e o debate sobre o futuro do petróleo, carvão e gás se intensificou. A ministra, representando a presidência espanhola da União Europeia, destacou que não se propõe eliminar imediatamente os combustíveis fósseis, mas a necessidade de criar condições para reduzi-los e avançar em direção à sua eliminação para concretizar a transição energética.

    Também no sábado, o Azerbaijão, cuja economia doméstica é fortemente dependente do petróleo, conquistou apoio durante a COP 28 para sediar a próxima cúpula do clima da ONU em 2024. A candidatura de Baku, capital do país do leste europeu, ganhou destaque após uma campanha russa contra qualquer nação da União Europeia (que apoia a Ucrânia diante da invasão russa) como anfitriã da COP 29.

    10/12/2023

    As discussões neste dia foram dedicadas à temática dos sistemas alimentares. As mudanças nos sistemas alimentares são cruciais no enfrentamento da crise climática, sendo consideradas tanto causadoras quanto parte das soluções. 

    Os sistemas alimentares estão entre as atividades humanas que mais emitem gases de efeito estufa, representando aproximadamente um terço das emissões globais, de acordo com estudo publicado na revista Nature. 

    Por outro lado, os impactos das mudanças climáticas afetam diretamente a produção, segurança alimentar e renda dos produtores. Ademais, eventos extremos, como secas e inundações, prejudicam as colheitas e as infra estruturas de cultivo.

    Além disso, à medida que as deliberações avançam, com um intenso debate sobre a inclusão ou não de uma clara intenção de programar o fim do uso de combustíveis fósseis, os países líderes na produção de petróleo expressam sua preocupação. 

    Uma carta da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), endereçada à sua associação irmã, a Opep+, composta por outras nações produtoras de combustíveis fósseis, foi revelada pela imprensa internacional. Essa correspondência destaca as discussões em torno dos possíveis rumos da COP 28 e seu impacto neste setor, que, apesar das críticas, continua a ser uma parte significativa da economia global.

    Na reta final do evento, a liderança da conferência está atualmente no centro das discussões, encaminhando as negociações para uma conclusão e elaborando um pacote conclusivo para os delegados. 

    Apesar dos avanços nas discussões, os participantes ressaltam a necessidade de mais progresso na adaptação, especialmente com a demanda dos países em desenvolvimento por um “pacote equilibrado” que atenda às necessidades globais e sustente o objetivo de manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5°C. 

    No entanto, países vulneráveis expressam preocupação com o lento avanço nas questões de adaptação, incluindo os planos e o financiamento necessários para enfrentar os crescentes impactos da crise climática sobre as comunidades.

    11/12/2023

    A menos de 24 horas do término da COP 28, aguarda-se a apresentação de um acordo que destaque as medidas para conter o aumento da temperatura na Terra, desenvolver estratégias de adaptação, garantir financiamento apropriado para a transição ecológica e oferecer compensações aos países mais vulneráveis pelos danos sofridos. 

    Nesse contexto, a expectativa na Expo City Dubai tem crescido nos últimos dias devido ao vazamento de uma carta da OPEP, formada pelos principais produtores de petróleo. A carta insita os membros a evitar qualquer menção à “eliminação” dos combustíveis fósseis no documento final da COP, uma medida urgente para prevenir o agravamento do aquecimento global.

    Reforçando a chamada por uma transição energética urgente, o secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou sua convicção, declarando: “É fundamental que o Balanço Global (GST, na sigla em inglês) reconheça a imperatividade de abandonarmos todos os combustíveis fósseis em um prazo alinhado com o limite de 1,5°C, e promova a aceleração de uma transição justa, equitativa e coordenada para todos”.

    Enquanto isso, o Executivo da ONU delineia o “caminho do dinheiro” destinado à bolsa climática, visando atender os países mais vulneráveis.

    Após a determinação de um montante de US$420 bilhões a serem pagos por nações mais ricas às que sofrem os impactos da mudança climática, ainda é necessário estabelecer as regras práticas para essa transferência.

    Em seu discurso no sábado, o executivo destacou a importância do fundo de perdas e danos, enfatizando os planos da agência para organizar o fluxo de recursos dos países mais desenvolvidos para as nações em desenvolvimento.

    Por fim, na sessão plenária da COP 28, realizada nesta segunda-feira, a escolha do Brasil como sede da COP 30 foi aprovada por unanimidade. 

    O Brasil já havia garantido o apoio da maioria dos países sul-americanos e caribenhos em maio deste ano, uma condição estabelecida pela ONU para a seleção do país anfitrião das conferências sobre o clima. O evento está programado para ocorrer entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, com a cidade de Belém, capital do Pará, sendo a escolhida.

    12/12/2023

    Neste último dia, diferentemente de anos anteriores, os combustíveis fósseis tornaram-se o foco central, especialmente devido aos Emirados Árabes Unidos sediarem o evento e à presença influente do CEO da maior petroleira do país. 

    O Brasil, representado por uma grande delegação, não conseguiu destacar-se como defensor do limite de 1,5ºC do Acordo de Paris, devido aos esforços para se tornar o quarto maior exportador de petróleo do mundo. 

    Assim, apesar de gestos simbólicos, como a liderança de uma ministra indígena nas negociações e a transferência do discurso sobre proteção das florestas para a Ministra do Meio Ambiente, o Brasil recebeu críticas por anunciar negociações para entrar na OPEP+.

    Com poucos indícios de acordo no último dia programado da COP 28, a pressão foi intensa sobre o presidente da cúpula, Sultão Al Jaber, para conduzir os 198 países a um ambicioso acordo final.

    O esboço do documento final da Cúpula do Clima deste ano eliminou a proposta de eliminação gradual dos combustíveis fósseis, resultando em protestos e contrariando a posição da ONU.

    Especula-se que o debate em torno dessa declaração possa atrasar o encerramento do evento. Embora algumas medidas importantes tenham sido incluídas, outras cruciais estão ausentes, levantando preocupações sobre a extensão da prorrogação da COP 28 devido à falta de consenso sobre o fim dos combustíveis fósseis.

    COP 28: quais foram os avanços?

    Pontos positivos da COP 28:

    Sinalização do fim dos combustíveis fósseis: Pela primeira vez na história das COPs, os países sinalizaram o término da era dos combustíveis fósseis, indicando um compromisso global para lidar com a crise climática. O enfoque do documento centra-se na transição para sistemas de energia com emissões zero ou reduzidas, mediante a utilização de tecnologias renováveis, nucleares e de captura e armazenamento de carbono. 

    “Juntos encaramos a realidade e colocamos o mundo na direção certa”, foram as palavras de Sultan Ahmed Al-Jaber, presidente da COP28. 

    Inclusão de parágrafos sobre energia renovável: O documento final foi elogiado pela inclusão de parágrafos relacionados à energia renovável, sendo considerada uma progressão significativa em comparação com versões anteriores. Nesse sentido, o acordo sugere aumentar para três vezes a capacidade global de energia renovável até o ano de 2030.

    Referências à biodiversidade: A abordagem da COP 28 em relação à biodiversidade e sua conexão com a Convenção da Diversidade Biológica foi reconhecida como um avanço positivo.

    Convocação da sociedade civil: A convocação da sociedade civil e de diversos atores para continuar apoiando o desenvolvimento do regime climático foi considerada positiva.

    Avanços em preservação de florestas, fundo de perdas e sistemas alimentares: A COP 28 registrou progressos em questões relacionadas à preservação de florestas, fundo de perdas e sistemas alimentares, áreas consideradas importantes, especialmente para o Brasil.

    Pontos negativos da COP 28:

    Insuficiência do documento em relação à crise climática: Apesar dos avanços, especialistas afirmam que o documento ainda está aquém do ideal diante da magnitude e agravamento da crise climática global. Além disso, o texto da COP não define metas abrangentes, uma vez que a responsabilidade de elaborar ou atualizar compromissos nacionais de redução das emissões de gases de efeito estufa é atribuída a cada país. Ou seja, muitos consideram a falta de comprometimento como uma “chancela” para que o uso de combustíveis fósseis continue ocorrendo. 

    Falta de eliminação dos combustíveis fósseis: A ausência da eliminação completa dos combustíveis fósseis foi apontada como uma falha significativa, sugerindo que ainda há um longo caminho a percorrer.

    Necessidade de clareza e ambição: Especialistas argumentam que o documento carece da clareza e ambição urgentemente necessárias para ser um instrumento útil nas próximas conferências.

    Falta de urgência na transformação necessária: Apesar de mencionar a redução do consumo e da produção de combustíveis fósseis, a COP 28 foi criticada por não compreender a urgência da transformação necessária.

    Necessidade de ações concretas dos países ricos: Apesar da sinalização da necessidade do fim do uso de combustíveis fósseis, é enfatizada a necessidade de os países ricos realizarem ações concretas para efetivamente eliminar o uso de carvão, óleo e gás até o final da década.

    Valores insuficientes: Países anunciaram um fundo de US$420 milhões para apoiar nações impactadas pelo aquecimento global. No entanto, o montante foi criticado por ser insuficiente. A conferência não estabeleceu compromissos concretos de financiamento para medidas de adaptação e mitigação. Em vez disso, o evento “reiterou” a necessidade de aumentar substancialmente os recursos destinados aos países afetados pelas mudanças climáticas.

    Como vimos, a COP 28 trouxe sim muitos avanços em comparação aos encontros anteriores, mas ainda precisamos arrumar meios para operacionalizar o que foi definido. 

    A luta pela descarbonização é uma responsabilidade de todos e não podemos deixar de nos posicionar e cobrar as ações dos países mais desenvolvidos, bem como fazer nossa parte. 

    Além disso, ignorar a necessidade das adaptações às mudanças climáticas, principalmente em regiões mais vulneráveis,  já não é mais possível. Assim, definir planos e os meios possíveis para tirá-los do papel torna-se urgente. 

    Esperamos que ações concretas sejam cada vez mais constantes e que possamos caminhar para um futuro mais sustentável!