Escrito por: Larissa Silvestre
A crescente urgência da crise climática tem impulsionado governos, empresas e organizações a investirem em projetos que visam minimizar os impactos das mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, fortalecer a resiliência de comunidades e ecossistemas. Contudo, o desafio persiste: como financiar essas iniciativas? É aqui que entram as finanças verdes. Vamos entender o por que as Finanças Verdes são tão importantes para a sociedade e para o planeta Terra.
O que são finanças verdes?
As finanças verdes referem-se ao financiamento de iniciativas e projetos que promovam o desenvolvimento sustentável, a conservação do meio ambiente e a mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
O termo abrange diversos tipos de instrumentos financeiros, como títulos verdes ou “green bonds”, em inglês, fundos de Investimentos sustentáveis e empréstimos verdes, que canalizam recursos para projetos alinhados a metas ambientais.
Fontes de Financiamento para Adaptação Climática
1. Títulos Verdes (Green Bonds)
Títulos verdes são instrumentos de dívida emitidos por empresas, governos ou organizações para captar recursos destinados a projetos ambientais.
Esses títulos têm sido uma das principais formas de financiar grandes projetos de infraestrutura climática, como a construção de sistemas de esgoto resistentes a inundações ou o reflorestamento de áreas degradadas.
O mercado de títulos verdes cresceu exponencialmente nos últimos anos, com uma emissão global de mais de US$200 bilhões em 2020.
O Brasil foi um dos primeiros países da América Latina a emitir títulos verdes.
Em 2020, a Caixa Econômica Federal emitiu R$1 bilhão em títulos verdes, com parte dos recursos destinados a projetos de sustentabilidade na Amazônia.
Em 2021, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou sua primeira emissão de títulos verdes, no valor de R$1,5 bilhão, focando em projetos que visam a recuperação florestal e a proteção da biodiversidade.
A emissão de títulos verdes continuou a crescer globalmente em 2022 e 2023, apesar de algumas oscilações no mercado financeiro.
Em 2022, houve uma emissão global de US$487,1 bilhões em títulos verdes, representando uma queda de 16% em relação a 2021, quando foram emitidos US$582,4 bilhões.
No entanto, essa contração refletiu principalmente o impacto da inflação e da volatilidade dos mercados de renda fixa, mas os títulos verdes ainda permaneceram dominantes no setor de finanças sustentáveis, representando 58% do mercado de títulos temáticos (verdes, sociais, sustentáveis e de transição) no mundo.
Na América Latina e Caribe, o mercado de títulos verdes, sociais e de sustentabilidade registrou um crescimento significativo, atingindo US$ 126,8 bilhões em 2022, com o Brasil representando o maior mercado da região, totalizando US$ 15,2 bilhões, em 86 operações.
Em 2023, o Brasil avançou ainda mais no mercado de títulos sustentáveis, emitindo seu primeiro título soberano verde, o que reforça seu compromisso com o financiamento de projetos sustentáveis e de baixa emissão de carbono.
“Na última semana, o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird) anunciou a emissão de títulos verdes, no valor de US$225 milhões, equivalente a aproximadamente R$1,2 bilhão. Esta iniciativa visa direcionar investimentos para o reflorestamento de áreas desmatadas na Amazônia, utilizando um modelo de título de impacto conhecido como outcome bond, que financia projetos com resultados socioambientais mensuráveis. Este anúncio representa a maior emissão desse tipo já realizada pelo Bird. Dos US$225 milhões captados, cerca de 16% serão investidos diretamente nas ações de reflorestamento. O restante dos recursos será destinado ao pagamento dos juros aos investidores, até que as árvores plantadas atinjam o potencial necessário para gerar novos recursos financeiros no mercado de carbono.” Artigo do Canal Boa Notícia.
O Brasil tem avançado na emissão de títulos verdes para financiar projetos na Amazônia, uma ação que reforça diretamente a Meta 19 do Marco Global da Biodiversidade de Kunming-Montreal, adotado em 2022 durante a COP15.
Esta meta enfatiza a importância de mobilizar recursos financeiros e aumentar significativamente os investimentos em biodiversidade, visando a conservação de ecossistemas críticos.
2. Fundo Verde para o Clima (Green Climate Fund)
Criado em 2010 sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), o Fundo Verde para o Clima (GCF – https://www.greenclimate.fund/) emergiu como uma das principais fontes de financiamento global para projetos de adaptação e mitigação das mudanças climáticas.
Com um capital inicial de US$ 10,3 bilhões, o fundo visa apoiar países em desenvolvimento na implementação de ações climáticas, priorizando iniciativas que promovam a resiliência e a adaptação a impactos climáticos.
O GCF busca catalisar investimentos em projetos que ajudem a mitigar as emissões de gases de efeito estufa e a aumentar a capacidade de adaptação das comunidades vulneráveis. Governos, organizações não governamentais (ONGs) e instituições do setor privado podem submeter propostas de projetos para receber financiamento, com um foco particular em:
– Desenvolvimento de infraestrutura resiliente: Construção de instalações que suportem eventos climáticos extremos.
– Agricultura sustentável: Projetos que promovam práticas agrícolas resilientes às mudanças climáticas.
– Gestão de recursos hídricos: Iniciativas para melhorar a gestão e conservação da água em regiões afetadas pela seca.
Até agora, o GCF já financiou diversos projetos de adaptação climática em países como:
Em Bangladesh os projetos são voltados para a construção de infraestrutura resistente a inundações, beneficiando comunidades costeiras vulneráveis à elevação do nível do mar. https://www.greenclimate.fund/project/fp206#overview
A Etiópia enfrenta secas agravadas pelas mudanças climáticas, influenciadas pelo El Niño/La Niña. O projeto busca melhorar o abastecimento de água e a gestão de terras degradadas, introduzindo bombeamento solar, irrigação em pequena escala e capacitação local. Mais de 50% dos beneficiários serão mulheres, e 30% das famílias atendidas serão chefiadas por mulheres.
No Peru, o financiamento apoiará os departamentos governamentais no desenvolvimento do plano de uso da terra e fornecerá suporte às organizações comunitárias e às populações indígenas. A maior parte dos fundos será destinada a bio-negócios, incluindo planos de negócios, marketing e gestão, equipamentos e suprimentos, e o desenvolvimento de energia solar para as operações.
O impacto do GCF é significativo, uma vez que oferece suporte financeiro crucial para países que enfrentam desafios climáticos severos. Até 2023, o fundo aprovou mais de US$ 6 bilhões em financiamento para diversos projetos ao redor do mundo. Além disso, espera-se que esses investimentos catalisem pelo menos US$ 2,8 bilhões em cofinanciamento, ampliando ainda mais o alcance das iniciativas de adaptação e mitigação.
O Fundo Verde para o Clima é, portanto, um componente essencial no esforço global para enfrentar as mudanças climáticas, ajudando na construção de um futuro mais resiliente e sustentável para as comunidades mais vulneráveis.
Instituições financeiras multilaterais, como o Banco Mundial (The World Bank) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), são grandes apoiadores de projetos sustentáveis. Essas organizações oferecem linhas de crédito específicas para projetos que promovam a adaptação climática, muitas vezes com condições de pagamento favoráveis e a taxas de juros reduzidas.
O BID, em parceria com governos latino-americanos, tem financiado projetos de infraestrutura resiliente ao clima, como o fortalecimento de diques e sistemas de irrigação em áreas secas da América Latina.
3. Parcerias Público-Privadas (PPP)
As PPPs têm sido uma solução eficaz para financiar projetos de adaptação climática. Governos podem fazer parcerias com o setor privado para compartilhar os custos e riscos de grandes empreendimentos. Empresas interessadas em sustentabilidade veem nesses projetos uma oportunidade de investir em iniciativas que, além de gerarem retorno financeiro, reforçam sua reputação corporativa.
No Canadá, PPPs foram usadas para construir sistemas de transporte resilientes ao clima, garantindo que estradas e pontes sejam preparadas para eventos climáticos extremos.
4. Investidores de Impacto
Investidores de impacto são aqueles que buscam não apenas retorno financeiro, mas também impacto social e ambiental positivo. Nos últimos anos, houve um crescimento expressivo no interesse desses investidores em projetos de adaptação climática. Eles costumam investir em tecnologias que promovam a eficiência energética, manejo sustentável de água e soluções baseadas na natureza.
Como Acessar Recursos para Projetos de Adaptação Climática?
Se você está buscando financiar um projeto de adaptação climática, aqui estão alguns passos práticos para acessar esses recursos:
1. Desenvolva um Plano Claro: Seja uma cidade, ONG ou empresa, é fundamental apresentar um plano detalhado do projeto. Inclua os impactos esperados, metas de resiliência e como o financiamento será utilizado.
2. Conheça as Exigências dos Financiadores: Cada fundo ou banco de desenvolvimento terá critérios específicos. Certifique-se de que o seu projeto atenda a essas exigências, incluindo padrões de sustentabilidade e impacto ambiental.
3. Estabeleça Parcerias: Grandes projetos de adaptação muitas vezes exigem a cooperação de vários setores. Parcerias público privadas ou alianças com ONGs locais podem aumentar suas chances de obter financiamento.
4. Monitore Resultados e Relate Impactos: Muitos financiadores exigem monitoramento constante dos resultados. Certifique-se de ter um sistema robusto de medição e relatórios para acompanhar o progresso do seu projeto.
O financiamento de projetos de adaptação climática é uma necessidade urgente diante dos crescentes desafios impostos pela mudança climática.
As finanças verdes oferecem uma gama de oportunidades para governos, empresas e organizações sem fins lucrativos captarem os recursos necessários para essas iniciativas.
De títulos verdes até parcerias público privadas, as opções são vastas, e o sucesso depende de planejamento cuidadoso, inovação e colaboração.